No chão de sua vida, Ambrosina Dias da Cruz costura virtudes e faz com que uma se equilibre na outra. Da humildade que não a deixa se esquecer da importância de uma terra firme para caminhar, colocando-a em contato com seu próprio valor, nasce a simplicidade que a ensina a não necessitar ser elogiada: “Tenho medo do elogio, de ficar orgulhosa. Eu gosto de reconhecimento e isso é diferente”.
Ambrosina nasceu no ano de 1917, em Diamantina (Alto Jequitinhonha – MG), cidade onde mora. Ela aponta como razão de sua vitalidade e longevidade a postura ativa que mantém desde menina: “Minha vida foi cheia de serviço, por isso estou bem de saúde”. Já foi doceira, costureira e “até pegava na enxada”. Nas atividades na Igreja encontrou o trabalho que lhe traz satisfação. Lá, aos nove anos de idade, começou a cantar. Ajudou, com as Pastorinhas de Diamantina, a arrecadar fundos para construir a Capela de Nossa Senhora da Consolação. Apresentando-se nas ruas da cidade, as meninas-pastorinhas cantavam e dançavam, acompanhadas pela orientação e pelo acordeon de Ambrosina. O grupo terminou em 2009, mas pôde deixar registrado, em CD, um pouco do seu trabalho. Os 50 anos em que permaneceu com as Pastorinhas não abandonam suas lembranças: “Tenho muita saudade. Eu gostava demais”.
De seu otimismo, ela colhe o prazer para viver. A vida, afirma, “é cheia de coisas boas, é só saber levar”. A lucidez que sustenta sua visão otimista lhe dá, também, coragem para não temer o fim. “Quando alguém morre, penso: foi?! Eu também vou. Ah, pode falar: a parte real de nossa vida é a nossa irmã morte. Na hora que você nasce, você já está morrendo. Deus põe na mão da gente uma vela da proporção da vida que vamos viver. Quando acende a vela, já estamos morrendo”, diz. Para quem é senhora de si mesma, servir o outro é uma grata oportunidade de expressar e dividir seu afeto, além de poder se livrar da prisão do egoísmo: “Me fechar, me trancar em mim, isso não! O que sei e tenho, eu divido. Ah, o prazer de servir: que alegria me dá!”.
Ficar trancada em si mesma não apenas tira o prazer de servir, como também pode impedir a convivência com uma postura que Ambrosina considera fundamental: “Dizer a verdade, somente a verdade”. É saindo de dentro de si, é não escondendo dentro dela fraquezas que ela deixa sua naturalidade se expressar: “Ah, eu era ranzinza. Não vou falar que só sou santa não. Eu também sou desconfiada, desapontada”.
Desconfiada de um lado, porém confiante por outro, Ambrosina repele a hesitação que duvida do êxito. Quando nos lançamos a uma empreitada, ela ensina, “não é pra dizer: ‘se der certo’, tem que tirar o ‘se’. Tem que dizer assim: ‘vai dar certo!’”. Como amiga de sua terra e artista de rua, foi ganhando o reconhecimento de onde tira estímulo para, no cultivo de um modo simples de viver, colher vida do seu chão.
Parabenizo a autora do projeto por semelnhante iniciativa de resgatar e realçar a sabedoria, a cultura e os valores de nossa gente simples e doutora da vida. Isso super importante, é colaborar com alternativas para esse disparate que se faz hoje na TV, de revelar das pessoas o que não tem nenhum valor, ou até por que nao dizer o que deveria permanecer no intimo delas, o seu lado sombrio.
dos entrevistados, conheço dona Ambrosina e o seu Gonçalo, gostei muito de serem escutados e poderem partilhar sua vida e rica experiência e a maneira com que a autora os trabalha.
No Serro, Fernando, encontrará uma enorme fonte de sabedoria popular, de culturas, como na festa do Rosario, geralmente no primeiro final de semana de julho, iniciando-se com uma novena. Seria uma otima oportunidade para encontrar pessoas interessantissimas…não deixe de procurar um idoso muito conhecido chamado: SR Luis.
Bom trabalho,
Jose Aristeu Vieira
Obrigada, José!
Vou procurar o Sr Luis, quando eu voltar ao Serro. Foi bom demais conhecer os fazedores! Quero continuar a conhecer outros!
Abraço.
Que legal, Fernandinha!
Por que você não escreve um livro contando essas experiências?
Gostei de sua ideia, Bianca! Quem sabe?!